Paulo: O pregador chorão

Paulo: O pregador chorãoAo lermos atentamente o Novo Testamento, não podemos deixar de ficar impressionado com a frequência das lágrimas de Paulo. Com a possível exceção de Jeremias, o profeta chorão, Paulo derramou mais lágrimas do que qualquer outro personagem bíblico. Por sua própria admissão, ele chorou "dia e noite" (Atos 20:31) e tinha incessante dor no seu coração (Romanos 9:2).
Enquanto Paulo conhecia o interior de numerosas prisões romanas (Filipenses 1:13), e ao mesmo tempo quase não havia um centímetro quadrado de seu corpo que não tinha uma cicatriz (Gálatas 6:17), não foi o sofrimento pessoal e a auto piedade que o fez chorar. Foi amor e preocupação pelos outros e pelo bem-estar da igreja. Ao mesmo tempo, apesar de toda a sua força de espírito e sua coragem em face do perigo, Paulo não tinha vergonha de chorar.
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Paulo chorou quando pensou na condição espiritual de sua nação.

Paulo cresceu como um judeu patriótico. Sua família em Tarso era tão ortodoxa quanto qualquer outra em Jerusalém. Inclusive eles tiveram o cuidado de enviá-lo por todo o caminho até Jerusalém para ir à faculdade na melhor universidade judaica do mundo, onde ele se sentou aos pés de Gamaliel. Lá, ele foi "ensinado de acordo com a forma perfeita da lei de nossos pais" (Atos 22:3).
Pode-se imaginar, então, a sua tristeza ao pensar que seu povo estava rejeitando seu Salvador e o plano de Deus para salvá-los. Ele tinha "grande tristeza e incessante dor" no seu coração (Romanos 9:2).
  • Sua dor era grande. A palavra usada aqui para "tristeza" poderia ser traduzida como "dor", até mesmo "dor como uma mulher tem durante o parto”.
  • Sua dor era contínua. Isso não quer dizer que ele estava literalmente o tempo todo pressionado por este sofrimento, mas sempre que ele pensava sobre o assunto, ele sentia grande tristeza.
  • Sua tristeza era pessoal. Ela estava enraizada em seu coração, e não apenas na superfície.
E nós? Quando vemos o pecado generalizado de nossa nação e sua espiritualidade em declínio, as lágrimas enchem nossos olhos? Possuímos o tipo de patriotismo que é mais profundo do que apenas torcer por nossa seleção nos Jogos da copa? Amamos sinceramente as pessoas da nossa nação o suficiente para desejar que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade? (1 Timóteo 2:4). Somos como Deus, "não querendo que ninguém pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento"? (2 Pedro 3:9).
Há poder na penitência nacional, como o povo de Nínive aprendeu (Jonas 3:1-10). Muita contemplação das frases de 2 Crônicas 7:14 beneficiaria nossa nação hoje: "Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos; então, eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra" (2 Crônicas 7:14).

Paulo chorou quando escreveu cartas.

"Porque em muita tribulação e angústia de coração vos escrevi, com muitas lágrimas" (2 Coríntios 2:4). Sempre que Paulo tinha de censurar seus irmãos ou administrar a disciplina, ele fazia isso com lágrimas gotejando sobre o papel. Sem dúvida, doía mais em Paulo escrever do que fazia por eles ao ler. A palavra "angústia" aqui vem da palavra "estrangular", e a palavra do Novo Testamento que Paulo usa significa "uma exploração em conjunto, constranger, ou comprimir" Uma admoestação é difícil de ignorar, se for feita com lágrimas.
E nós? Será que as nossas repreensões são acompanhadas com nossas lágrimas? A repreensão piedosa é um fruto do amor; a censura ímpia é fruto de ciúme ou do mal. Salomão escreveu: "Melhor é a repreensão aberta do que o amor encoberto. Fiéis são as feridas dum amigo; mas os beijos dum inimigo são enganosos" (Provérbios 27:5-6). A repreensão piedosa nos leva a angústia quando as nossas palavras fere os outros, mas nós fazemos isso porque vemos o bem maior, para ajudar uma pessoa que amamos melhorar a sua vida para agradar a Deus. Um cirurgião deve causar dor para curar, mas o benefício a longo prazo supera a dor a curto prazo. Vamos deixar que outros vejam que não temos nenhuma alegria de repreende-los; que eles saibam que o amor pede isso. Deixe que nos meçam não pelo número de palavras, mas pelo número de lágrimas que gotejam de nossos rostos.

Paulo chorou quando pregou.

A maioria dos pregadores chora algumas vezes enquanto prega. Paulo parece ter feito isso o tempo todo. Ele passou seus 36 meses de pregação entre os cristãos em Éfeso com esta declaração: "Portanto vigiai, lembrando-vos de que por três anos não cessei noite e dia de admoestar com lágrimas a cada um de vós" (Atos 20: 31). Ele também advertiu que "de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si" (Atos 20:30).
Que exemplo Paulo mostra acerca da pregação, e especialmente sobre a exortação?
  • Paulo foi fiel em advertir. Eu não cessei de advertir. . . Como um vigilante fiel, Paulo avisou-os sobre o perigo que ele viu no horizonte (Ezequiel 33:6-7).
  • Paulo foi imparcial em advertir. Ele advertiu "todos". . . jovens e velhos, novos convertidos e anciãos, em público e privado, aqueles que acreditavam nele e aqueles que duvidava. Como todos receberam a admoestação de Paulo, Paulo encorajou outros pregadores a ser imparcial: "Conjuro-te diante de Deus, e de Cristo Jesus, e dos anjos eleitos, que sem prevenção guardes estas coisas, nada fazendo com parcialidade" (1 Timóteo 5:21).
  • Paulo era constante em advertir. Diariamente ele falava com aqueles que o rodeava ou escrevia cartas de advertência. À noite, em vez de descansar, talvez ele orasse por aqueles que ele não podia alcançar. Tanto "noite e dia", ele expressava sua preocupação pelas suas almas.
  • Paulo era incansável em advertir (Ezequiel 3:18-21). Ele "não cessava"
  • Paulo era compassivo em advertir. Ele advertiu "com lágrimas...” Ele se colocava no lugar deles, se sentava onde eles sentavam, e via o mundo através dos olhos deles.
Leia também: O pregador que não podia deixar de pregar

Paulo chorou quando ele pensou em seus inimigos.

"porque muitos há, dos quais repetidas vezes vos disse, e agora vos digo até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo" (Filipenses 3:18). Quem eram esses inimigos? Eles eram ou judaizantes que negavam o valor da cruz (Gálatas 5:11, Gálatas 6:12, Gálatas 6:14) ou antinomianos epicuristas, cuja vida dissoluta negavam a eficácia da cruz (1 João 2:4)
Paulo não tinha nenhuma alegria de encontrar hipócritas na igreja. Só lhe trouxe tristeza. Ele estava triste por que:
  • Eles estavam destruindo suas próprias almas.
  • Eles estavam decepcionando Deus.
  • Eles estavam prejudicando a causa de Cristo, e dando ocasião para os "inimigos do Senhor maldizer”.
Paulo chorava porque havia muitos que se opunham à mensagem da cruz. Já era ruim o suficiente ter alguém trabalhando contra a igreja, mas era muito pior ter uma equipe de inimigos. Isso nos lembra de que não devemos basear nossas convicções em um censo ou enquete de popularidade. "Não seguirás a multidão para fazeres o mal" (Êxodo 23:2). Cristo tem um "pequeno rebanho" (Lucas 12:32), e o caminho estreito tem "poucos" (Mateus 7:14).
Paulo não manteve sua tristeza e as preocupações para si mesmo. Ele disse-lhes muitas vezes dos inimigos da cruz. Matthew Henry observa que "damos tão pouca atenção às advertências que nos foram dadas que temos necessidade de tê-las repetidas." Quando se trata de advertências, não há segurança em números: "Não me é penoso a mim escrever-vos as mesmas coisas" (Filipenses 3:1).

Paulo chorou quando houve obstáculos a pregação do evangelho.

"servindo ao Senhor com toda a humildade, e com lágrimas e provações que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram;" (Atos 20:19). A oposição dos judeus o fez chorar, embora não por medo do perigo pessoal. Ele chorou porque os judeus estavam impedindo o seu progresso em ganhar almas para Cristo.

Paulo chorou quando ele pensou nas provações de seus amigos.

Paulo se preocupava por aqueles que ele havia convertido e pelos irmãos das igrejas que ele havia estabelecido. Ele disse a Timóteo: "e, recordando-me das tuas lágrimas, desejo muito ver-te, para me encher de gozo" (2 Timóteo 1:4). É difícil imaginar Paulo pensando nas lágrimas de Timóteo sem chorar. Paulo é o único que escreveu que os cristãos devem "chorar com os que choram" (Romanos 12:15).
Jesus pronuncia uma bênção sobre os misericordiosos (Mateus 5:7). Barclay diz que a palavra misericórdia significa a capacidade de "ir dentro da outra pessoa, até que possamos ver as coisas com os olhos da pessoa, pensar as coisas com a sua mente e sentir as coisas com seus sentimentos" É semelhante a nossa palavra simpatia. Simpatia é derivada de duas palavras gregas, sym que significa "junto com" e paschein que significa "experimentar ou sofrer" Simpatia significa "experimentar coisas junto com a outra pessoa", literalmente passando pelo que ela está passando.
Muitas pessoas estão tão preocupadas com seus próprios sentimentos que elas não estão muito preocupadas com os sentimentos de mais ninguém. Quando elas sentem pena de alguém, é, por assim dizer, exteriormente; elas não fazem o esforço deliberado para entrar na mente e no coração da outra pessoa, para ver e sentir as coisas como a outra pessoa vê e sente (Filipenses 2:4-5).
Em Jesus Cristo, no sentido mais literal, Deus entrou dentro olhos do homem, sentiu as coisas com os sentimentos do homem, e pensou as coisas com a mente do homem. Deus sabe o que é a vida, porque Deus veio dentro da vida (João 1:14; Filipenses 2:6-7).
A expressão misericórdia tem origem latina, é formada pela junção de miserere (ter compaixão), e cordis (coração). "Ter compaixão do coração", significa ter capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente, aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém, ser solidário com as pessoas.
Trata-se de um coração tocado e ferido pela miséria do outro; um coração terno. Misericórdia conta a miséria do outro como sua, e se entristece com a dor do outro como se fosse a sua própria dor. Os índios Sioux rezavam: "Grande Espírito, ajuda-me a nunca julgar o outro até que eu tenha andado duas semanas em seus mocassins".
Depois de listar uma série de perseguições físicas que tinha sofrido, Paulo disse: "Além dessas coisas exteriores, há o que diariamente pesa sobre mim, o cuidado de todas as igrejas" (2 Coríntios 11:28). Ele menciona esta última, como se quisesse dizer que esta estava mais pesada sobre ele, e como se ele pudesse suportar melhor todas as perseguições de seus inimigos do que os escândalos que eram encontrados nas igrejas que ele amava.
Isto continuava lhe pressionando - os casos ouvidos e resolvidos, em relação à doutrina, a disciplina, a perseguição, e a manutenção de todas as igrejas - era desgastante. Em um nível mais pessoal, muitos deles eram jovens cristãos; outros eram mais velhos, mas não tinha amadurecido. Várias igrejas eram compostas de judeus e gentios, com preconceitos conflitantes, hábitos e preferências. Além disso, eles foram perseguidos, e em seus sofrimentos Paulo sentiu profunda simpatia.
O que manteve Paulo avançando em tais circunstâncias? Ele acreditava que todas estas coisas levaria a alguma coisa boa (Romanos 8:28). Ele continuou com carinho sonhando com o céu e a recompensa que receberia lá. Esperando por ele estava:
  • A coroa da justiça (2 Timóteo 4:8; 1 Coríntios 9:25, Tiago 1:12, 1 Pedro 5:4, Apocalipse 2:10).
  • A vida eterna (1 Timóteo 6:12, Tito 1:2).
  • A aceitação de Jesus (2 Coríntios 5:9).
Que grande carga Paulo carregava, e de bom grado ele carregou! Ele disse: "Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas. Se mais abundantemente vos amo, serei menos amado?" (2 Coríntios 12:15). Ele estava sempre se dando com entusiasmo, de bom grado. Sua vida foi uma morte diária (1 Coríntios 15:31).
Sendo assim sobrecarregado com todas estas preocupações, Paulo não foi um miserável? Não, é estranho dizer que; sua canção ecoou nas celas da prisão (Atos 16:25, 2 Coríntios 7:4). Ele escreveu: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus. Porque, como as aflições de Cristo transbordam para conosco, assim também por meio de Cristo transborda a nossa consolação" (2 Coríntios 1:3-5).

Pr. Aldenir Araújo

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