O Último Minuto e a Primeira Promessa

Texto bíblico: Lucas 23:39–43 (ARA)

“Um dos malfeitores que estavam pendurados com ele blasfemava, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo: Nem sequer temes a Deus, estando na mesma condenação?

Nós, na verdade, com justiça, pois recebemos o que os nossos atos mereciam; mas este nenhum mal fez. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino. Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”

Introdução:

Amados irmãos e irmãs, há momentos na vida em que tudo parece chegar ao fim. Quando a dor é insuportável, a esperança se esvai e o silêncio de Deus parece ensurdecedor. Mas justamente nesses instantes — às vezes no último suspiro, na última lágrima, no último ato de fé — Deus intervém com uma graça que surpreende até os mais céticos.

O texto que vamos meditar hoje nos mostra um criminoso morrendo na cruz, ao lado do Filho de Deus, e ainda assim recebendo a mais sublime promessa jamais pronunciada: Hoje estarás comigo no paraíso Não houve batismo, não houve confissão em igreja, não houve tempo para boas obras. Apenas um grito de fé no meio da escuridão.

Neste sermão, vamos descer ao Calvário, não como espectadores, mas como pecadores que, assim como aquele ladrão, precisam da misericórdia que só Cristo pode oferecer.

Contexto histórico:

O evento descrito ocorre por volta do ano 33 d.C., durante a festa da Páscoa judaica, em Jerusalém, sob domínio romano. Jesus fora condenado por Pilatos e crucificado entre dois lestai — termo grego que pode significar “bandidos” ou “insurgentes políticos” (Mc 15:27; Mt 27:38). A crucificação era o método de execução mais humilhante e doloroso do Império Romano, reservado para escravos, traidores e criminosos graves.

Lucas, o evangelista médico e historiador, destaca com precisão o contraste entre os dois criminosos: um zomba de Jesus com a incredulidade típica do coração endurecido; o outro, porém, demonstra arrependimento genuíno e reconhecimento da inocência de Cristo — algo raro até entre os discípulos naquele momento. O termo “paraíso” (grego: parádeisos) vem do persa antigo e significa “jardim real” ou “lugar de delícias”. Na Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento), é usado para descrever o jardim do Éden (Gn 2:8). Jesus, ao usar essa palavra, evoca a restauração da comunhão entre Deus e o homem.

O Último Minuto e a Primeira Promessa

I. O Desespero Humano no Momento Final

A. O malfeitor zombador representa a humanidade endurecida pelo pecado, que ainda exige provas mesmo diante da cruz.

B. Seu tom de escárnio (“Salva-te a ti mesmo e a nós”) revela a mentalidade do mundo: Deus deve servir aos nossos interesses.

C. Muitos hoje vivem como se a graça fosse um direito, não um dom.

D. O desespero, quando não se volta para Deus, gera amargura e blasfêmia.

E. Onde estamos colocando nossas expectativas? Em sinais e maravilhas, ou na Pessoa de Cristo? Mateus 12:39; 1 Coríntios 1:23.

II. O Arrependimento que Nasce na Cruz

A. O segundo criminoso reconhece sua culpa com humildade: “Nós, com justiça… este nenhum mal fez.”

B. Ele não minimiza seu pecado nem busca justificativas — há transparência diante de Deus.

C. Seu temor a Deus (“Nem sequer temes a Deus?”) mostra que o verdadeiro arrependimento começa com reverência.

D. O grego phobeō (temer) aqui não é terror, mas santo respeito que leva à submissão.

E. Arrependimento genuíno não pede livramento da cruz, mas presença de Cristo nela. Salmo 51:17; 2 Coríntios 7:10.

III. A Inocência de Cristo, Reconhecida por um Pecador

A. Curiosamente, um criminoso percebe o que sacerdotes, escribas e até discípulos não viram plenamente naquele momento.

B. Cristo é chamado de “justo” (dikaios em grego), ecoando Isaías 53:11: “Meu servo justo justificará a muitos.”

C. A inocência de Jesus não é teórica — é prática, provada em Sua resposta cheia de graça.

D. Sua ausência de defesa (Is 53:7) contrasta com a justiça exigida pelo ladrão arrependido.

E. Verdade eterna: Só quem vê a santidade de Cristo é capaz de se enxergar pecador. Lucas 23:47; Atos 3:14.

IV. A Coragem de Crer Contra Toda Esperança

A. O criminoso não vê milagres, não vê exércitos celestes — só um homem sangrando ao seu lado.

B. Mesmo assim, professa fé no “reino” de Jesus — algo invisível, futuro, mas real.

C. Sua oração é simples, mas poderosa: “Lembra-te de mim.”

D. Essa é a essência da fé salvífica: confiar na promessa, não nas circunstâncias.

E. Nossa fé resiste quando tudo desmorona? Romanos 4:18; Hebreus 11:1.

V. A Graça que Não Espera pelo Mérito

A. Jesus não diz: “Você será salvo quando…” ou “Se você fizer isso primeiro…”

B. A resposta é imediata, incondicional e definitiva: “Hoje estarás comigo.”

C. A palavra “hoje” (sēmeron em grego) enfatiza a certeza e a urgência da salvação.

D. Não houve purgatório, não houve “segunda chance” — houve graça no momento exato.

E. Doutrina central: A salvação é pela graça, mediante a fé, e isso não vem de nós (Ef 2:8–9). Tito 3:4–5; Romanos 5:8.

VI. O Paraíso Restaurado Pela Cruz

A. “Paraíso” não é apenas um lugar, mas uma condição de comunhão íntima com Deus.

B. Adão perdeu o Éden; Cristo reabre o caminho na cruz.

C. Estar “comigo” é o cerne da promessa — não é uma recompensa abstrata, mas relacionamento pessoal.

D. Jesus não promete riquezas, saúde ou sucesso, mas Sua presença eterna.

E. Visão escatológica: O céu começa quando Cristo habita em nós — hoje. Apocalipse 2:7; 22:1–2; João 14:3.

Conclusão:

Irmãos, a cruz revela duas respostas diante do sofrimento e da graça divina. Um coração endurecido que exige que Deus prove Sua bondade, e um coração quebrantado que crê mesmo sem entender. O ladrão arrependido não teve tempo para grandes feitos, mas teve um coração pronto para crer.

E Jesus — o Rei crucificado — não exigiu perfeição, apenas fé. Ele não disse “talvez”, “depois” ou “se merecer”. Disse: “Hoje”. Hoje há esperança. Hoje há perdão. Hoje há paraíso para quem se volta a Ele com sinceridade.

Que este texto nos lembre que nunca é tarde demais para clamar por misericórdia — mas que também nunca devemos adiar o dia da salvação. Porque o “hoje” de Deus é agora.

Aplicação Prática:

1.  Examine seu coração diante da cruz: Você está zombando da graça ou suplicando por ela?

2.  Confesse seus pecados com transparência, como fez o ladrão — sem justificativas, com humildade.

3.  Creia na promessa de Cristo, mesmo quando não há evidências visíveis de mudança.

4.  Não subestime a graça: ninguém é “muito pecador” demais para ser salvo.

5.  Viva como quem já pertence ao paraíso: com esperança, bondade e testemunho, mesmo na dor.

Que o Senhor nos conceda a fé simples e corajosa daquele homem na cruz — e que, como ele, possamos ouvir de Jesus: “Hoje estarás comigo no paraíso.”

Amém. 

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