O Futuro Pertence a Quem Caminha com Deus

Texto Bíblico: Filipenses 3:13-14

“Irmãos, eu não considero que já o alcancei; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus”

Introdução

Caros irmãos e irmãs em Cristo,

Estamos prestes a atravessar mais uma porta que se abre diante de nós — o início de um novo ano. Há algo profundamente significativo nesse momento que vivenciamos ano após ano. O calendário muda, os números se renovam, mas o que realmente importa é como nos preparamos para caminhar pelos dias que Deus nos concedeu.

Paulo, o apóstolo, estava escrevendo de uma cela em Roma, provavelmente em circunstâncias bastante adversas. Ele não estava escrevendo um artigo teológico abstrato, mas transmitindo a sabedoria de uma vida inteira dedicada a servir a Cristo. E nessa carta aos Filipenses, ele compartilha um segredo transformador: a chave para viver de forma significativa não está em olhar para trás com nostalgia ou conformismo, mas em avançar com propósito e determinação.

Hoje, Deus quer nos ensinar através deste texto que o futuro pertence àqueles que sabem caminhar com Ele. Não se trata de simplesmente passar de um ano para outro, mas de fazer uma jornada deliberada, consciente e transformadora. O apóstolo nos mostra que essa caminhada requer uma decisão intencional: esquecermo-nos das coisas que ficam para trás e avançarmos para as que estão diante de nós.

Que o Espírito Santo abra os nossos corações enquanto exploramos juntos as profundas verdades desta passagem, para que saiamos desta mensagem não apenas informados, mas genuinamente transformados para o ano que se inicia.

O Futuro Pertence a Quem Caminha com Deus

Contexto Histórico, Cultural e Teológico

O Apóstolo Paulo e a Carta aos Filipenses

A Carta aos Filipenses foi escrita por Paulo durante seu primeiro encarceramento em Roma, aproximadamente entre os anos 61 e 63 d.C. Filipos era uma colônia romana na Macedônia, fundada por Filipe II da Macedônia em 356 a.C. A cidade tinha status de "colônia romana", o que significava que seus habitantes gozam de certos privilégios cidadãos romanos, incluindo o direito de voto e proteção legal especial. Paulo estabeleceu a igreja em Filipos durante sua segunda viagem missionária, por volta do ano 50 d.C., e a igreja filipense tornou-se uma das comunidades mais queridas e generosas que o apóstolo conhecia.

O contexto histórico deste trecho específico é particularmente significativo. Paulo estava preso, talvez em custódia romana, aguardando julgamento diante de César. Em circunstâncias normais, alguém poderia pensar que um prisioneiro está em desvantagem, que seu melhor tempo ficou para trás. No entanto, é precisamente nesse contexto de aparente limitação que Paulo escreve estas palavras memoráveis sobre avançar, não recuar. O apóstolo demonstra que a verdadeira limitação não está nas circunstâncias externas, mas na nossa capacidade espiritual de olhar para frente com fé.

O Significado de "Scholein" e "Epekteinomen"

O verbo grego "scholein" (σχολέω), utilizado no versículo 13, é uma forma verbal que carrega um significado profundo. Na literatura clássica grega, este verbo estava associado à ideia de "inclinar-se para diante" ou "curvar-se na direção de algo". Diferentemente de simplesmente "esquecer" no sentido passivo de perder da memória, Paulo está utilizando um termo que implica uma ação deliberada e contínua de soltar, libertar-se ativamente. A imagem é de um corredor que, ao perceber que algo está o impedindo de avançar, conscientemente solta esse obstáculo e inclina seu corpo para frente, na direção da linha de chegada.

O termo "epekteinomen" (πεκτείνομαι), traduzido como "avançando" ou "prossigo", intensifica essa ideia de movimento para frente. O prefixo "epi" adiciona a noção de "além" ou "para cima", enquanto "teinō" significa "esticar" ou "estender". Juntos, estes termos criam a imagem de alguém que se estende para além de seus limites atuais, que não se contenta com o ponto onde está, mas busca constantemente alcançar algo mais elevado. Esta não é uma passividade de aceitar o destino, mas uma ação enérgica de estender-se em direção ao chamado de Deus.

A Perspectiva Judaica sobre o Tempo e o Progresso

Para compreender plenamente este texto, precisamos considerar a perspectiva judaica sobre o tempo e o progresso espiritual. Na tradição judaica, havia uma forte ênfase no conceito de "tikkun" ou restauração — a ideia de que o povo de Deus estava em uma jornada contínua de melhoria e aproximação da perfeição Divina. Os rabinos frequentemente ensinavam que o justo é aquele que está sempre crescendo, sempre se aproximando mais de Deus.

Paulo, sendo um fariseu treinado aos pés de Gamaliel, estava profundamente imbuído dessa tradição de busca contínua por retidão. No entanto, em sua conversão, ele redescoberta essa busca não como uma realização através da lei, mas através da graça de Cristo. A tensão que ele expressa em Filipenses 3 reflete essa transformação: ele não abandona o anseio de progredir, mas redefine seu objetivo e seu método. Agora, o alvo não é a própria justiça baseada em obras, mas a Cristo e na vocação que vem de Deus.

A Relevância para a Celebração do Ano Novo

O momento de transição para um novo ano era significativo no mundo antigo. Os romanos, por exemplo, tinham diversas celebrações em torno do ano novo, incluindo as Saturnálias em dezembro. Embora não possamos afirmar com certeza que Paulo escreveu especificamente para uma celebração de ano novo, os princípios que ele articula são perfeitamente aplicáveis a qualquer momento de transição. A ideia de deixar o passado para trás e avançar em direção a um futuro promissor ressoa profundamente com a experiência humana universal de desejar um recomeço.

Para os primeiros cristãos, a transição para um novo ano tinha um significado ainda mais profundo. Eles viviam na expectativa do retorno de Cristo e viam cada dia como uma oportunidade de avançarem em direção a esse objetivo final. Essa perspectiva urgência e esperança que caracterizava a comunidade primitiva é algo que precisamos recuperar em nossa própria experiência de fé.

I. O Problema de Olhar para Trás

A primeira verdade fundamental que precisamos compreender é que olhar para trás pode se tornar um obstáculo devastador para o nosso crescimento espiritual. O apóstolo Paulo não está sugerindo que devemos apagar nossa memória ou negar nossa história. Ele está nos advertindo sobre o perigo de permitir que as coisas do passado nos prendam de tal forma que nos impedem de avançar. Quando nos voltamos excessivamente para o que ficou para trás, criamos correntes invisíveis que nos mantêm presos em lugares onde Deus já nos chamou para sair.

Paulo mesmo tinha um passado impressionante — como ele menciona nos versículos anteriores, ele tinha credenciais religiosas que qualquer judeu invejaria. Ele era fariseu, circuncidado no oitavo dia, da tribo de Benjamim, segundo o zelo que tinha na lei. Se alguém tinha o direito de se gloriar no passado, esse alguém era Paulo. No entanto, ele reconhece que todas essas conquistas, por mais significativas que fossem, se tornaram obstáculos quando começou a depender delas em vez de depender de Cristo. O passado, por mais glorioso que tenha sido, nunca deve se tornar o presente. Devemos honrar nossa história, mas não podemos permitir que ela nos defina ou nos limite.

O primeiro aspecto desse problema é a armadilha da nostalgia espiritual. 

Muitos crentes vivem nostalgicamente de avivamentos passados, de experiências anteriores com Deus, de dias em que a igreja era "mais cheia" ou a comunhão "mais profunda". Essa nostalgia, quando não filtrada pela graça de Deus, nos paralisa e nos faz resistentes a novos mover do Espírito. Não estamos sugerindo que devemos esquecer as bênçãos do passado, mas que não devemos nos tornar escravos de um passado que já passou. O salmista disse: “Lembrai-vos das suas maravilhas antigas” (Salmos 77:11), mas esse lembrar deve nos inspirar a buscar novas maravilhas, não nos fazer lamentar que elas não se repetem da mesma forma.

A segunda armadilha é o peso dos fracassos passados. 

Se a nostalgia pode nos paralisar pelo que foi bom, os fracassos podem nos paralisar pelo que foi ruim. Há pessoas que carregam o peso de decisões erradas, de pecados confessados mas não esquecidos, de oportunidades perdidas. Paulo nos diz que há uma maneira de deixar esses pesos para trás. Não é uma repressão psicológica, mas uma libertação através da graça de Deus. Em 2 Coríntios 5:17, ele escreve: “Quem está em Cristo, é nova criatura; as cousas velhas já passaram; eis que se fez novas todas as coisas”. A palavra "velhas" aqui está no passado completo em grego — não são coisas que estão passando, mas coisas que já passaram completamente. Ou seja, em Cristo, o passado não apenas pode ser esquecido — já está esquecido aos olhos de Deus, e deve ser também aos nossos.

A terceira manifestação desse problema é a armadilha das expectativas não realizadas. 

Muitos olham para o ano que passou e sentem frustração por não terem alcançado o que esperavam. Projetos não foram concluídos, relacionamentos não foram restaurados, oração não foi atendida da forma esperada. Essas expectativas não cumpridas podem nos deixar em um estado de desânimo que nos impede de olhar para frente com esperança. A resposta de Paulo não é minimizar o desejo de progredir, mas canalizar esse desejo de forma produtiva. Ele não diz que devemos abandonar nossas metas, mas que devemos mantê-las alinhadas com a vocação que vem de Deus.

A quarta manifestação é o apego excessivo às bênçãos anteriores. 

Quando Deus nos abençoa de alguma forma, há uma tendência natural de querer permanecer naquele momento de bênção, de construir ali nossa moradia espiritual. Mas Deus quer nos levar adiante. O maná que sustentou Israel no deserto não podia ser guardado para o dia seguinte — era uma lição de que devemos confiar em Deus para cada novo dia. Da mesma forma, as bênçãos do ano passado são sementes para o que Deus fará este ano, não objetos de adoração em si mesmas.

A quinta manifestação é o medo do desconhecido. 

Olhar para trás, mesmo que seja para um passado difícil, pode parecer mais seguro do que olhar para um futuro incerto. O diabo explora essa tendência nos fazendo acreditar que o passado, com todos os seus problemas, era pelo menos "conhecido", enquanto o futuro é assustadoramente desconhecido. Paulo nos convida a confiar em um Deus que conhece o futuro melhor do que conhecemos o passado. Em Isaías 46:10, Deus declara: “Eu é que anuncio desde o princípio o que há de vir; muito antes de se cumprir, eu vo-lo declaro”. O futuro está nas mãos de Deus, e isso deve nos dar coragem para avançar.

II. A Decisão de Esquecer Deliberadamente

O verbo "esquecer" utilizado por Paulo não é um imperativo no sentido de "você deve esquecê-lo", mas um particípio médio, indicando uma ação que o próprio sujeito realiza sobre si mesmo. Esta distinção gramatical é crucial para compreender a profundidade do que Paulo está ensinando. Não se trata de um esquecimento passivo que acontece conosco, mas de uma decisão deliberada que tomamos ativamente. É como se Paulo dissesse: "Eu estou continuamente me esquecendo das coisas que ficam para trás." Esta é uma prática espiritual que requer esforço consciente e vigilância constante.

A primeira dimensão dessa decisão é a renúncia à autoconfiança baseada em conquistas passadas.

Paulo não estava sugerindo que devemos nos tornar pessoas sem memória ou sem identidade. Ele estava dizendo que não podemos confiar em quem éramos ou no que fizemos para nos definir espiritualmente. Em Gálatas 2:20, ele expressa essa realidade de forma maravilhosa: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”. Esta declaração não nega a existência de Paulo como pessoa, mas redefine sua identidade e fonte de confiança. Ou seja, não sou mais eu que vivo, buscando aprovação através de minhas obras, mas Cristo que vive em mim, operando através de mim.

A segunda dimensão é a libertação de padrões de pensamento que nos prendem ao passado. 

Há formas de pensar que nos mantêm emocionalmente apegados a situações e relacionamentos que já passaram. Jesus abordou essa realidade quando disse: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arrancá-lo e lança-o para longe de ti” (Mateus 5:29). A linguagem é dramática, mas o princípio é claro: qualquer coisa que nos impede de seguir a Cristo completamente deve ser removida. Isso inclui não apenas ações, mas também pensamentos, memórias e apegos emocionais que nos prendem.

A terceira dimensão dessa decisão envolve a capacidade de aprender com o passado sem ser controlado por ele. 

Há uma diferença fundamental entre lembrar do passado para aprender com ele e ser dominado por ele. O salmista orou: “Ensina-nos de tal modo a contar os nossos dias, que levemos ao coração a sabedoria” (Salmos 90:12). O objetivo de lembrar é ganhar sabedoria para o futuro, não ficar preso no passado. O salmista está pedindo a Deus que nos ensine a valorizar cada dia que vivemos, que não desperdicemos nossa vida em lamentações pelo que foi ou preocupações ansiosas pelo que será, mas que vivamos cada dia com propósito e sabedoria Divina.

A quarta dimensão é o perdão de si mesmo e dos outros. 

Um dos maiores obstáculos para avançar é a incapacidade de nos perdoar pelos erros do passado ou de perdoar aqueles que nos machucaram. O esquecimento deliberado que Paulo descreve inclui a escolha de não carregar mais o peso de mágoas e ressentimentos. Em Colossenses 3:13, Paulo escreve: “Suportai-vos uns aos outros, e perdoai-vos mutuamente, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim também fazei vós”. O perdão não é um sentimento, mas uma decisão. É uma escolha de libertar a outra pessoa (e a nós mesmos) da prisão do ressentimento.

A quinta dimensão é a redefinição de sucesso e fracasso à luz da eternidade. 

Quando aprendemos a ver nossas vidas pela perspectiva da eternidade, muitas das coisas que pareciam tão importantes no passado perdem seu peso. O apóstolo João, em sua primeira carta, escreveu: “Porque a este propósito manifestou-se o Filho de Deus: para desfazer as obras do diabo” (1 João 3:8). Quando compreendemos o verdadeiro propósito de nossas vidas — glorificar a Deus e servir ao Seu reino — ganhamos uma nova perspectiva sobre o que realmente importa e o que devemos deixar para trás.

III . A Necessidade de Focar no Presente

Após abordar o problema de olhar para trás e a decisão de esquecê-lo deliberadamente, Paulo nos guia para a necessidade crucial de focar no presente. Ou seja, a transição do "deixar para trás" para o "avançar para frente" acontece no presente. Não é algo que acontece automaticamente quando o calendário muda; é algo que deve ser cultivado intencionalmente a cada dia. Ou seja, o hoje é o terreno onde a batalha pela nossa identidade e propósito é travada e vencida.

A primeira verdade sobre o presente é que ele é o único tempo sobre o qual temos algum controle real. 

Não podemos mudar o passado; não podemos garantir o futuro. Mas neste exato momento, neste dia, temos a capacidade de fazer escolhas que nos aproximam ou nos afastam de Deus. Jesus enfatizou essa verdade quando ensinou: “Não vos preocupais, pois, com o dia de amanhã; porque o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mateus 6:34). Esta não é uma desculpa para a irresponsabilidade, mas um chamado para não permitir que preocupações com o futuro nos roubem a capacidade de viver com propósito no presente.

A segunda verdade é que o presente é onde a fidelidade é demonstrada. 

Em Lucas 16:10, Jesus disse: “Quem é fiel no pouco, também é no muito; e quem é injusto no pouco, também é no muito”. Deus não está apenas olhando para o que faremos no futuro ou o que fizemos no passado; Ele está olhando para o que estamos fazendo agora, neste momento. A fidelidade é construída através de pequenas decisões cotidianas, não através de grandes declarações ocasionais. Ou seja, o que fazemos no dia a dia revela nossa verdadeira condição espiritual.

A terceira verdade sobre o presente é que ele é o momento da graça disponível. 

Em 2 Coríntios 6:2, Paulo cita o profeta Isaías: “Eis agora o tempo favorável; eis agora o dia da salvação”. Ou seja, a salvação não está no passado, já perdida, nem no futuro, ainda por vir. Ela está disponível agora, neste momento. Da mesma forma, a força de Deus não está apenas disponível no retrospecto de grandes avivamentos do passado ou em expectativas futuras de bênçãos. Ela está disponível agora, hoje, neste exato momento em que você está respirando e ouvindo esta mensagem.

A quarta verdade é que o presente é onde a comunhão com Deus acontece. 

Jesus disse: “Porque, onde estão dois ou três reunidas em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mateus 18:20). Não é "onde estavam" ou "onde estarão", mas "onde estão agora". A presença de Deus não é uma memória do passado ou uma promessa para o futuro; é uma realidade presente para aqueles que O buscam. Da mesma forma, a comunhão com Deus não acontece apenas quando nos lembramos dEle em gratidão ou quando esperamos por Ele em esperança, mas quando nos aproximamos dEle agora, neste momento.

A quinta verdade sobre o presente é que ele é o terreno da obediência prática. 

Em João 14:21, Jesus disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama”. Não é "aquele que teve no passado" ou "terá no futuro", mas "aquele que tem e guarda agora". A obediência a Deus não é um evento único, mas uma postura contínua. É a decisão de, em cada momento, escolher fazer a vontade de Deus conforme ela nos é conhecida.

IV. O Objetivo do Avanço

Paulo não apenas nos chama a avançar; ele nos dá um objetivo claro e definido para esse avanço. “Prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus”. Esta linguagem é claramente metafórica, evocando a imagem de um corredor em uma competição atlética fixando seus olhos na linha de chegada. Ou é, não estamos apenas nos movendo de forma aleatória ou desesperançosa; estamos nos dirigindo a um objetivo específico, um alvo claramente definido, um prêmio claramente identificado.

A primeira característica do alvo é que ele é celestial. 

Não se trata de uma conquista terrena, não se trata de sucesso material ou reconhecimento humano. O alvo que Paulo descreve está em uma dimensão completamente diferente — é “a vocação celestial de Deus em Cristo Jesus”. Esta expressão nos lembra que nossa chamada não é primariamente para uma vida melhor aqui na terra, mas para uma vida eterna com Deus. Isso não significa que Deus não se importa com nossas necessidades cotidianas, mas que a perspectiva maior de nossa existência está além deste mundo temporário.

A segunda característica do alvo é que ele é baseado na vocação de Deus. 

Paulo não está nos encorajando a buscar qualquer objetivo que pareça nobre ou significativo. Ele está nos direcionando para a vocação específica que Deus nos deu. Em Romanos 8:30, Paulo descreve a sequência da salvação: “Aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”. A vocação que Paulo menciona é a chamada eficaz de Deus — aquela que não apenas convida, mas também capacita e garante a conclusão da obra.

A terceira característica do alvo é que ele é alcançável em Cristo Jesus. 

A palavra "em Cristo Jesus" não é um detalhe adicional; é a base de toda a nossa esperança. Sem Cristo, o alvo permanece inatingível. Com Cristo, não apenas é atingível, mas garantido. Ou é, a nossa capacidade de avançar não depende primariamente de nossa força ou determinação, mas de nossa união com Cristo. Em João 15:5, Jesus disse: “Sem mim, nada podeis fazer”. Esta declaração pode parecer desanimadora, mas na verdade é profundamente encorajadora — significa que, em Cristo, podemos fazer todas as coisas que Ele nos chamou para fazer.

A quarta característica do alvo é que ele é descrito como um "prêmio". 

Na língua original grega, a palavra "prêmio" (brabeion) refere-se ao troféu ou prêmio dado ao vencedor de uma competição. A imagem é clara: a vida cristã não é um jogo passivo onde todos recebem o mesmo prêmio independentemente de seu esforço. É uma competição onde o esforço importa, onde há uma diferença entre simplesmente participar e vencer. No entanto, é crucial entender que o prêmio não é nossa graça; a graça é o que nos capacita a competir. O prêmio é a vida eterna, a comunhão eterna com Deus, a satisfação eterna de todas as nossas aspirações mais profundas.

A quinta característica do alvo é que ele está relacionado à "chamada" de Deus. 

Paulo usa a palavra "klēsis" (κλσις), que no contexto greco-romano referia-se a um chamado oficial, como uma convocação para um cargo ou posição. A metáfora sugere que não somos meramente crentes tentando fazer o melhor que podem em uma jornada espiritual solitária. Somos pessoas que foram chamadas por Deus para um propósito específico, equipadas com a graça necessária para cumprir esse propósito, e direcionadas para um objetivo que Deus mesmo preparou para nós.

V. A Postura do Corredor

Paulo utiliza uma metáfora atlética para descrever a postura correta do crente em sua jornada espiritual. Ele se vê como um corredor em uma competição, e essa imagem nos ensina importantes lições sobre como devemos nos posicionar em relação à nossa vida espiritual. Ou é, a metáfora do corredor não é apenas um ornamento literário; é uma janela para a realidade da vida cristã como uma jornada que requer preparação, esforço e foco.

A primeira lição da metáfora do corredor é que a vida cristã requer movimento deliberado. 

Um corredor não fica parado na linha de partida esperando que a corrida termine; ele avança, passo a passo, até cruzar a linha de chegada. Da mesma forma, a vida cristã não é um estado de descanso passivo, mas uma jornada ativa de fé e obediência. Hebreus 12:1-2 nos lembra: “Posto de lado todo peso e o pecado que nos cerca, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé”. A imagem é de uma corrida que requer persistência, não de uma festa onde todos recebem prémios sem esforço.

A segunda lição é que a vida cristã requer preparação cuidadosa. 

Um corredor não compete sem treinamento; ele se prepara durante semanas e meses, construindo resistência e habilidade. Da mesma forma, a vida cristã não pode ser vivida de forma superficial e despreparada. Paulo escreveu em 2 Timóteo 2:15: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. A palavra "procura" (spoudazo) implica esforço, diligência, seriedade. Não estamos falando de uma fé casual, mas de uma dedicação intencional e comprometida.

A terceira lição é que a vida cristã requer foco inabalável. 

Um corredor de elite mantém seus olhos fixos na pista à frente, não nas arquibancadas ou nos outros corredores. Ele sabe que qualquer distração pode significar a perda da corrida. Em Hebreus 12:2, a escritura nos ordena: “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé”. Não é apenas "olhando de vez em quando", mas fixando nosso olhar continuamente em Cristo. Isso significa que, independentemente das distrações que a vida apresenta, nossa atenção deve retornar constantemente a Jesus, a Autor e Consumador da nossa fé.

A quarta lição é que a vida cristã requer disciplina sacrificial. 

Um corredor de elite faz sacrifícios significativos — ele evita certos alimentos, mantém uma rotina rigorosa de treinos, suporta dores físicas durante a preparação. A vida cristã também requer sacrifício. Em Lucas 9:23, Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me”. A palavra "negue-se" (aparnēsomai) é forte — significa literalmente "dizer não a si mesmo", recusar-se a ser governado pelos próprios desejos e impulsos. Não é uma opção; é uma exigência para todos os que desejam seguir a Cristo de forma genuína.

A quinta lição é que a vida cristã requer resistência para completar a jornada. 

Não basta começar bem; é preciso terminar bem. Em 1 Coríntios 9:24-27, Paulo desenvolve a metáfora atlética mais completamente: “Não sabeis que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só recebe o prêmio? Correi de tal modo que o conquisteis. Todo aquele que compete na atlética tudo exerce em disciplina, mas eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, para uma incorruptível. Eu, portanto, assim corro, não como quem corre sem objetivo; assim combato, não como quem golpeia o ar; antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, tendo pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser desqualificado”. A mensagem é clara: a disciplina não é opcional; é essencial para não ser desqualificado.

VI. A Motivação que Sustenta

Todo corredor precisa de motivação para continuar correndo, especialmente quando o cansaço aparece e a meta parece distante. Paulo não nos deixa sem essa motivação; ele nos dá razões profundas para continuarmos avançando, não importa quais sejam as circunstâncias. Essas motivações não são baseadas em sentimentos subjetivos, mas em verdades objetivas sobre Deus e Sua obra em nossas vidas.

A primeira motivação é a certeza do chamado de Deus. 

Paulo fala de "a vocação celestial de Deus em Cristo Jesus". Esta expressão indica que nossa jornada não é uma aventura solitária baseada em nossa própria força de vontade. É uma resposta a um chamado Divino, uma vocação que foi dada por Deus antes da fundação do mundo. Em Efésios 1:4-5, Paulo escreve: “Ele nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para si mesmo, para adoção de filhos, por Jesus Cristo”. Esta certeza de que fomos chamados por Deus nos dá a motivação para continuar, porque sabemos que a corrida não depende apenas de nossa força, mas da fidelidade de Deus que nos chamou.

A segunda motivação é a fidelidade de Deus em completar a obra começada. 

Em Filipenses 1:6, Paulo escreve: “Tenho por certo que aquele que começou em vós a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Cristo Jesus”. Esta promessa é fundamental para nossa motivação. Não estamos dependendo de nossa própria força para completar a jornada; estamos dependendo de Deus. E se Ele começou a obra, Ele a completará. Esta certeza nos dá coragem para continuar, mesmo quando sentimos fraqueza ou desânimo. Não é presunção confiar em Deus; é fé.

A terceira motivação é a realidade da volta de Cristo. 

A esperança do retorno de Jesus era central para a vida e o ensino dos primeiros cristãos. Em Tito 2:13, Paulo escreve: “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”. Esta esperança não é um desejo vago, mas uma expectativa confiante baseada nas promessas de Deus. A certeza de que Cristo voltará para buscar Seu povo é uma motivação poderosa para viver de forma que nos prepare para esse encontro. Não estamos correndo para o vazio; estamos correndo em direção a um encontro glorioso com nosso Senhor.

A quarta motivação é o amor de Deus que nos sustenta. 

Em Romanos 8:38-39, Paulo faz uma declaração poderosa: “Porque estou certo de que nem morte nem vida, nem anjos nem principados, nem poderes, nem alturas, nem profundidade, nem alguma outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”. Esta certeza do amor incondicional de Deus é uma fonte inesgotável de motivação. Quando falhamos, quando caímos, quando nos sentimos indignos, o amor de Deus nos sustenta e nos levanta. Não precisamos temer o julgamento de Deus, porque em Cristo já fomos aceitos. Ou seja, corremos não para ganhar o amor de Deus, mas porque já o temos em abundância.

A quinta motivação é a recompensa eterna que nos aguarda. 

Embora a ênfase da graça seja que a salvação é pela fé e não pelas obras, as Escrituras claramente ensinam que há recompensas eternas para aqueles que vivem fielmente. Em Mateus 6:19-20, Jesus disse: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e furtam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem traça nem ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem furtam”. A motivação para a fidelidade não é a ganância, mas o reconhecimento de que as coisas eternas são infinitamente mais valiosas que as temporais. Quando vivemos com os olhos fixos na recompensa eterna, as tentações e tribulações deste mundo perdem seu poder de nos desviar.

Conclusão

Chegamos ao final desta jornada através da palavra de Deus, e o que encontramos é profundamente transformador. O apóstolo Paulo, escrevendo de uma cela romana, nos oferece uma filosofia de vida que transcende todas as circunstâncias externas. Ele nos mostra que a verdadeira chave para viver de forma significativa não está em nosso passado, por mais glorioso ou doloroso que tenha sido, nem em nossas circunstâncias presentes, por mais favoráveis ou adversas que sejam. A chave está em nossa capacidade de deixar o passado para trás e avançar deliberadamente em direção ao futuro que Deus preparou para nós.

Ou seja, o Ano Novo não é apenas uma mudança no calendário; é uma oportunidade para uma mudança fundamental em nossa perspectiva e postura. Não se trata de fazer resoluções que provavelmente esqueceremos em poucas semanas, mas de fazer uma decisão radical de seguir a Cristo com todo o nosso ser, de tal forma que o ano que se inicia seja diferente de todos os anteriores.

Paulo nos convida a participar de uma corrida que já está em andamento, uma corrida que começou quando Deus nos chamou e que terminará quando estivermos diante dEle na glória. E como qualquer corredor experiente sabe, a preparação para a corrida é tão importante quanto a própria corrida. Precisamos nos preparar espiritualmente para o ano que se inicia, fortalecidos pela palavra de Deus, equipados pelo Espírito Santo, e encorajados pela comunidade de fé.

Que este seja o ano em que finalmente entendamos que o futuro pertence àqueles que caminham com Deus. Não aos que olham para trás com nostalgia ou conformismo, mas aos que avançam com propósito e determinação. Não aos que se contentam com o status quo, mas aos que se estendem para o que está à frente. Não aos que dependem de suas próprias forças, mas aos que confiam em Deus que os chamou e os capacita.

Que o Senhor nos ajude a entrar neste novo ano com coragem renovada, fé fortalecida e amor aprofundado. Que sejamos como corredores que, mesmo cansados, não desistem porque sabem que o prémio no final da corrida vale cada gota de suor, cada momento de dor, cada sacrifício feito pelo caminho. E o prémio que nos aguarda — a comunhão eterna com Deus em Cristo Jesus — é verdadeiramente digno de todo o nosso esforço.

Aplicação Prática

Que estas verdades se tornem realidade concreta em nossas vidas neste novo ano. Não bastará apenas ter ouvido esta mensagem; o que importa é como ela transformará nossas escolhas e ações diárias.

A primeira aplicação é examinar honestamente o que está nos prendendo ao passado. 

Reserve um tempo nesta semana para uma avaliação espiritual profunda. Identifique memórias, relacionamentos, padrões de pensamento ou hábitos que estão funcionando como correntes que o impedem de avançar. Escreva-os e, em oração, entregue-os a Deus, pedindo-Lhe graça para soltar cada um deles. Ou seja, faça uma lista concreta das "coisas que ficam para trás" e tome a decisão deliberada de libertar-se delas. Isso pode incluir mágoas que você tem alimentado, sonhos que não se realizou mas que você ainda está tentando forçar, ou bênçãos passadas que você está idolatrando.

A segunda aplicação é estabelecer metas espirituais específicas para este ano. 

Baseado no alvo que Deus lhe deu, defina objetivos concretos em áreas como oração, leitura bíblica, comunhão, serviço e evangelismo. Seja específico: não basta dizer "vou orar mais"; defina quando e por quanto tempo. Não basta dizer "vou estudar mais a Bíblia"; defina qual livro ou tema você estudará. Escreva essas metas e revisite-as mensalmente para avaliar seu progresso. Paulo não correria uma maratona sem treinamento; também não devemos enfrentar o novo ano sem preparação espiritual deliberada.

A terceira aplicação é criar um ambiente que favoreça o avanço espiritual. 

Examine seu ambiente — as pessoas com quem você passa mais tempo, as mídias que consome, as atividades que ocupam seu tempo. Pergunte-se: este ambiente me aproxima de Deus ou me afasta dele? Que mudanças você pode fazer para criar um ambiente mais favorável ao crescimento espiritual? Isso pode significar limitar o tempo em redes sociais, buscar uma igreja mais engajada, ou estabelecer novos padrões de convivência com sua família. Ou seja, as condições ao nosso redor têm grande influência sobre nossa capacidade de avançar.

A quarta aplicação é desenvolver uma disciplina de gratidão que olha para o futuro com esperança. 

Não uma gratidão nostálgica que deseja voltar ao passado, mas uma gratidão que reconhece as bênçãos do passado como preparação para as bênçãos futuras. Comece cada dia deste novo ano agradecendo a Deus por três coisas específicas — não generalizações, mas graças concretas. Isso treinará seu coração para reconhecer a bondade de Deus e o enche-lo de esperança para o que está por vir. A gratidão é uma escolha, não um sentimento; e escolhas consistentes eventualmente se tornam hábitos que moldam nosso caráter.

A quinta aplicação é encontrar um parceiro de corrida espiritual. 

A vida cristã não foi projetada para ser vivida em isolamento. Encontre alguém com quem você possa compartilhar suas metas espirituais, alguém que possa encorajá-lo nos momentos de desânimo e responsabilizá-lo quando você começar a desviar do caminho. Isso pode ser um mentor espiritual, um amigo crente, ou um grupo de crescimento. Hebreus 10:24-25 nos exorta: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimulados ao amor e às boas obras, não abandonando a nossa congregação, como alguns têm por costume, mas confortando-nos uns aos outros”. Ou seja, corra em comunidade, e você terá muito mais chances de chegar à linha de chegada.

Que o Senhor abençoe ricamente este novo ano para cada um de vocês, que sejamos encontrados avançando, não recuando; estendendo-nos, não nos acomodando; correndo com perseverança até que cheguemos ao alvo final — a vida eterna em comunhão com nosso Deus e Salvador Jesus Cristo.

Amém. 

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