Os Lobos no Púlpito: Quando o Discurso Sagrado Esconde um Coração Falso
Texto bíblico: Mateus 7:15-20
Introdução:
Há um silêncio pesado que toma conta de uma sala de hospital quando o médico entra com um olhar sério. Ninguém precisa gritar o diagnóstico — o coração já sabe que algo está errado. Amado, hoje, o Senhor Jesus entra na sala do nosso tempo com um olhar assim. Não vem com brincadeiras, nem com aplausos, nem com música suave. Ele vem com uma advertência cortante: “Acautelai-vos dos falsos profetas.” Não é um aviso para os incrédulos lá fora. É para nós. Para os que frequentam a casa de Deus. Para os que cantam, oram, compartilham versículos nas redes. É para os que, por fora, parecem ovelhas, mas por dentro são lobos rapaces.
Quantas vezes já fomos seduzidos por um sorriso fácil, por
uma voz melodiosa, por uma teologia bem embalada, e descobrimos tarde demais
que aquilo não nos alimentou — só nos distraiu? Quantos de nós já saímos de um
culto emocionados, mas semanas depois percebemos que nossa vida não mudou? Que
nossa oração secou, nosso amor esfriou, nossa justiça virou aparência?
Jesus não fala de hereges óbvios. Ele fala dos disfarçados.
Dos que usam a linguagem do céu para servir interesses terrenos. E o mais
assustador? Eles estão entre nós. Talvez até pregando nesta igreja.
Talvez até você tenha sido um deles, sem saber. Por isso, hoje, não
vamos falar de doutrinas distantes. Vamos falar de frutos. Porque é neles que
se revela a verdadeira natureza da alma.
Contexto
Este trecho foi proferido por volta de 30 d.C., no contexto
do Sermão da Montanha, quando Jesus reunia multidões no norte da Galileia. O
povo vivia sob o domínio romano, oprimido, espiritualmente faminto. Os líderes
religiosos — fariseus, saduceus, escribas — tinham transformado a fé em regras,
aparência, controle. Surgiam então “profetas” por todos os lados, prometendo
libertação, milagres, revelações. Alguns eram sinceros, mas muitos eram
oportunistas, mascarados de santidade, aproveitando-se da fragilidade do povo.
Jesus, então, não apenas ensina — Ele desmascara. E
faz isso com uma lógica simples, agrária, direta: “Pelo fruto conhecereis a
árvore.” Não é o discurso, não é o título, não é a posição. É o fruto. E
isso muda tudo. Porque, se o fruto é mau, a árvore está podre. Mesmo que tenha
flores bonitas.
Agora, vamos caminhar juntos por sete verdades que podem salvar sua fé — e talvez até sua alma.
I. Primeiro: Cuidado Com o Disfarce Que Parece Santo.
O falso profeta não vem vestido de demônio. Ele vem com capa
de ovelha. “Vêm a vós disfarçados em ovelhas” (Mateus 7:15).
A palavra grega para “disfarçados” é enduomenoi
— literalmente “vestidos por dentro”. Não é só uma máscara social; é uma
identidade assumida.
Ele acredita que é santo. E isso é perigoso. Porque o
maior perigo não é o erro que você reconhece, mas o erro que você santifica.
Quantos hoje usam a Bíblia como escudo para esconder
ganância, orgulho, manipulação? O diabo não precisa negar a Palavra — ele só
precisa distorcê-la. Lembre-se: Balaão profetizava em nome de Deus, mas seu
coração estava vendido ao ouro (2 Pedro 2:15).
II. Segundo: O Perigo Não Está na Aparência, Mas na Natureza.
Jesus diz: “Por dentro são lobos devoradores” (Mateus
7:15). A palavra “devoradores” vem do grego lýkoi arpaktikoí —
lobos que atacam, destroem, devoram. Não pastam. Não cuidam. Devoram.
O falso profeta não alimenta o rebanho — ele o consome. Usa
as pessoas.
Se você já se sentiu esvaziado depois de ouvir um “homem de
Deus”, se saiu da presença dele com menos paz, menos amor, mais medo, mais
culpa, cuidado. Pode ser um lobo. Porque o verdadeiro pastor dá a vida pelas
ovelhas (João 10:11), não as explora.
III. Terceiro: Deus Não se Engana Com Aparências.
É fácil enganar as pessoas. É impossível enganar a Deus. “Porventura
colhem de espinhos uvas?” (Mateus 7:16).
A natureza determina o fruto. Um espinho não produz uva, por
mais que você o regue, por mais que o coloque num vaso bonito.
O mesmo vale para o coração humano. Se a natureza é
corrupta, o fruto será mau.
Não adianta gritar “Senhor, Senhor” se a vida é de
opressão, inveja, luxúria. Deus vê o interior. Ele sabe se você serve para ser
amado ou para ser aplaudido.
O rei Davi foi ungido não pelo que parecia, mas pelo que
era: um homem segundo o coração de Deus (1 Samuel 16:7).
IV. Quarto: O fruto é a Evidência Irrefutável da fé.
Jesus repete: “Pelos seus frutos os conhecereis”
(Mateus 7:16, 20). A palavra “frutos” em grego é karpoi — plural.
Não é um ato isolado. É um padrão de vida.
Não é o que você faz uma vez, mas o que você produz sempre.
O Espírito Santo produz fruto — amor, alegria, paz, longanimidade
(Gálatas 5:22-23).
Já o homem carnal produz obras — discórdia, inveja,
ambição (Gálatas 5:19-21).
Um pastor que vive em conflito, que divide igrejas, que
acumula bens, que despreza os pobres, não importa quantos milagres faça — seu
fruto revela sua raiz.
V. Quinto: A Árvore Má Não Pode Produzir Fruto Bom.
“Nenhuma árvore má dá bom fruto” (Mateus 7:18). Isso
é lei espiritual. Assim como não se tira água do deserto, não se tira santidade
de um coração não regenerado.
Você pode fingir por um tempo. Pode citar versículos, fazer
campanhas, ter uma “unção” que atrai multidões. Mas, cedo ou tarde, a natureza
brota. Porque a fonte determina o fluxo.
Um poço envenenado não pode dar água pura. E se sua vida
interior é de orgulho, controle, medo de perder o controle, seus frutos serão
amargos.
Jesus não disse: “Conhecereis pelas suas doutrinas”, mas
“pelos seus frutos”. A teologia certa com um coração errado ainda é
falsidade.
VI. Sexto: O Fruto Bom Vem de Uma Vida Enraizada em Cristo.
O oposto também é verdadeiro: “Toda árvore boa dá bom
fruto” (Mateus 7:17). A árvore boa não finge dar fruto — ela não
consegue deixar de dar. Porque está enraizada. Nutrida. Conectada à fonte.
Assim é o verdadeiro crente. Ele não precisa forçar o amor. Ele não precisa
fingir humildade.
Ele não vive de campanhas de “abençoamento”. Ele vive de
comunhão. Porque o fruto nasce da união com Cristo — “Sem mim, nada podeis
fazer” (João 15:5).
O verdadeiro ministro não é o que mais fala de si, mas o que
mais aponta para Cristo. Não é o que mais tem seguidores, mas o que mais tem
semelhança com o Mestre.
VII. Sétimo: O Juízo Final Será Baseado no Fruto, Não no Título.
Jesus termina com um choque: “Nem todo o que me diz:
Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus” (Mateus 7:21). Há pessoas que
chamam Jesus de Senhor com a boca, mas o negam com a vida.
Profetizam, expulsam demônios, fazem maravilhas — e ainda
assim são rejeitadas. Por quê? Porque o Senhor olha para o coração. E o coração
se revela no fruto.
O dia virá em que todos os disfarces cairão. As máscaras, os
títulos, os palcos, os microfones — tudo será queimado como palha.
Só permanecerá o que foi produzido pelo Espírito: fruto de
justiça, misericórdia, verdade (Mateus 3:8).
Conclusão
O que Jesus está nos dizendo hoje? Que a verdadeira
espiritualidade não é medida por quanto você fala de Deus, mas por quanto Deus
transforma você. Que não basta ter uma mensagem correta — é preciso ter uma
vida coerente. Que não podemos confiar apenas na emoção, no carisma, na
tradição. Temos que olhar para o fruto. O seu fruto. O fruto daqueles que você
admira. O fruto da igreja que você frequenta.
E se o fruto estiver amargo? Há esperança. Porque Jesus não
veio para julgar as árvores — Ele veio para regenerar as raízes. Ele é o
agricultor que poda, limpa, rega, restaura. Ele pode transformar um espinho em
videira. Um lobo arrependido em pastor. Um coração falso em verdadeiro. Basta
você parar de fingir. Basta você entregar a raiz a Ele.
Desafio Prático:
Escolha um fruto do Espírito (Gálatas 5:22-23) — por
exemplo, paciência, bondade ou mansidão — e, todos os dias, antes de dormir,
pergunte a três pessoas diferentes: “Você notou em mim alguma evidência
desse fruto esta semana?” Não defenda-se. Apenas ouça. Anote. Ore. E
permita que o Espírito Santo revele o que o espelho humano mostra. Porque é no
reflexo do outro que vemos, muitas vezes, a verdadeira face da nossa alma.
E se você descobrir que tem sido mais lobo do que ovelha… corra para o Bom Pastor. Ele não te rejeita. Ele te resgata. E te faz frutificar, não para glória própria, mas para glória d’Aquele que chamou a luz do meio das trevas — e pode fazer o mesmo com você.
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