Despindo o Peso, Fixando o Olhar: Correndo a Corrida que Cristo Preparou
Texto Bíblico: Hebreus 12:1-2
“Portanto, também nós, tendo em derredor de nós tão
grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de
perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta,
olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da
alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, desprezando a afronta, e
assentou-se à destra do trono de Deus”
Introdução
Meus irmãos e irmãs, quantas vezes você já se sentiu exausto na corrida da vida? Cansado de lutar contra o mesmo pecado, de enfrentar a mesma tentação, de carregar o mesmo fardo que parece nunca diminuir? Talvez você esteja correndo, mas tropeçando. Talvez esteja avançando, mas com o olhar desviado. Talvez esteja tentando, mas sem a força necessária para terminar a corrida.
O escritor aos Hebreus não está falando de uma corrida
qualquer. Ele fala de uma carreira — uma prova planejada, com propósito,
com linha de chegada, com um corredor ideal à frente. E ele nos convida a olhar
para cima, para trás, para dentro e para frente — tudo ao mesmo tempo. Ele nos
mostra uma nuvem de testemunhas, uma corrida a ser corrida, um peso
a ser deixado e um olhar a ser fixado. Este não é um sermão sobre
esforço humano. É um sermão sobre graça sustentadora, sobre perseverança
sobrenatural, sobre olhar para Jesus e correr com esperança.
Preparem seus corações. Este é um chamado urgente para
despirmos o que nos atrapalha e fixarmos os olhos naquele que já terminou a
corrida por nós.
Contexto Histórico
O livro de Hebreus foi escrito provavelmente entre 60 e 70
d.C., numa época de intensa perseguição aos crentes judeus convertidos ao
cristianismo. Muitos estavam tentados a voltar ao judaísmo tradicional, por
medo de sofrimento, exclusão social ou até morte. O autor, cuja identidade
permanece incerta (embora alguns atribuam a Paulo, Apolo ou Barnabé), escreve
com profundidade teológica e estilo literário elevado, demonstrando
familiaridade com a Lei, os profetas e a cultura helenística.
O propósito do livro é mostrar a superioridade de Cristo
sobre todos os sistemas religiosos anteriores: mais elevado que os anjos, mais
eficaz que os sacerdotes levíticos, mais completo que o sistema sacrificial. Em
Hebreus 12, o tom muda um pouco: após argumentos doutrinários, o autor entra em
exortação prática. Ele apela à perseverança, usando a imagem do atleta olímpico
— comum no mundo grego — para encorajar os crentes a não desistirem, mesmo
diante da dor.
A "nuvem de testemunhas" (grego: nephos martyron) não são espectadores passivos, mas testemunhas vivas da fidelidade de Deus, registradas no capítulo 11 — Abraão, Moisés, Raabe, Gideão — todos que viveram pela fé. E agora, nós, que viemos depois, corremos sob o mesmo Deus, com um caminho mais claro, com um Salvador mais próximo.
I. Reconheça a Nuvem de Testemunhas que te Rodeia
A. A fé não é uma jornada solitária. Quando corremos,
estamos cercados por uma multidão de santos que já passaram pela prova. Eles
não estão apenas no céu; suas vidas ecoam na história da redenção. O capítulo
11 de Hebreus é o “hall da fama da fé”, onde homens e mulheres, imperfeitos mas
fiéis, testemunharam que Deus cumpre suas promessas.
B. A palavra “testemunhas” (martyres) no grego
original não significa apenas espectadores, mas testemunhas oculares da
fidelidade divina. Eles não apenas viram, mas viveram a fé.
C. Isso nos encoraja: se Abraão obedeceu sem saber para onde
ia (Hebreus 11:8), se Moisés desprezou os prazeres do Egito (v.25), então nós
também podemos confiar, mesmo quando o caminho é escuro.
D. A presença deles não é mística, mas memorial. Eles são
exemplos, não intercessores. A ênfase não está neles, mas no Deus que os
sustentou.
E. Quando duvidamos da fidelidade de Deus, lembrar desses
heróis da fé nos traz coragem. Eles correram com obstáculos, e nós também
corremos — mas com mais luz, com o Espírito, com Cristo revelado.
II. Deixe para Trás Todo Embaraço
A. O texto diz: "deixemos todo embaraço". A
palavra grega euperispaston significa "aquilo que envolve
com facilidade", "o que atrapalha o movimento". Pode ser algo
lícito, mas não necessário — como roupas pesadas, excesso de bagagem emocional,
relações tóxicas, ambições desordenadas.
B. Muitos cristãos não caem em pecado aberto, mas se cansam
carregando o que não é essencial. Um casamento desfeito, uma amargura
guardada, um vício disfarçado de hábito, uma carreira que consome o tempo com
Deus.
C. Até mesmo o bom pode se tornar inimigo do melhor. Paulo
diz: "Tudo me é lícito, mas nem tudo convém" (1 Coríntios
6:12). O que você carrega que não é pecado, mas está te atrasando?
D. O atleta olímpico dos tempos bíblicos corria nu ou com
mínima vestimenta. Qualquer peso era eliminado. Assim devemos ser: despojados
de tudo que impede a velocidade espiritual.
E. Pergunte-se: o que me faz tropeçar? O que me retarda? O
que me desvia do foco? A corrida exige leveza. E leveza vem da entrega, da
renúncia, da humildade.
III. Abandone o Pecado que tão de Perto nos Rodeia
A .Aqui o texto é mais específico. Não é apenas o embaraço —
é o pecado. E não qualquer pecado, mas aquele que "tão de perto
nos rodeia" (grego: euperistaton), como um inimigo que
circunda, que persegue, que espera o momento de atacar.
B. Esse pecado pode ser a murmuração, a luxúria, a ganância,
a soberba, a preguiça espiritual. É o pecado que você conhece bem, que já
venceu antes, mas que volta como um cão ao seu vômito (2 Pedro 2:22).
C. Ele "rodeia" porque é constante, insistente,
estratégico. Não ataca de frente, mas por trás. Não vem como um leão, mas como
uma serpente silenciosa.
D. A única forma de vencer é pela confissão (1 João 1:9),
pela vigilância (1 Pedro 5:8) e pela dependência do Espírito (Gálatas 5:16).
Não basta resistir — é preciso fugir (2 Timóteo 2:22).
E. Jesus não apenas perdoa o pecado, mas quebra o seu poder.
Ele não nos chama a viver em escravidão, mas em liberdade. Abandone o pecado
não por força de vontade, mas por fidelidade a quem te libertou.
IV. Corra com Paciência a Carreira que te é Proposta
A. A corrida cristã não é uma sprint. É uma maratona. A
palavra “paciência” aqui (grego: hupomone) não é passividade, mas
perseverança ativa, resistência firme, coragem sob pressão.
B. A carreira é “proposta” — ou seja, designada, planejada
por Deus. Não é aleatória. Ele não nos colocou aqui por acaso. Cada dor,
cada prova, cada deserto faz parte do percurso.
C. José foi vendido, preso, esquecido — mas estava correndo
a carreira que lhe fora proposta (Gênesis 50:20). Davi foi perseguido, mas
sabia que era ungido (1 Samuel 16:13). Você também tem um propósito.
D. A paciência não é esperar sem fazer nada. É continuar
correndo, mesmo quando as pernas doem, mesmo quando ninguém aplaude, mesmo
quando parece que Deus está em silêncio.
E. Lembre-se: o fim da corrida não é a morte, mas a presença
de Cristo. E enquanto isso, cada passo conta. Cada dia fiel é um ato de
adoração.
V. Olhe Firmemente para Jesus, o Autor e Consumador da Fé
A. Este é o centro do texto. Toda a corrida depende de um
único olhar. A palavra “olhando firmemente” (grego: aphorontes)
significa fitar com intensidade, não desviar o olhar, como um
corredor que olha para a linha de chegada.
B. Jesus é o Arche (Autor) e o Teleios
(Consumador). Ele começou a obra da fé em nós (Filipenses 1:6) e a levará à
perfeição. Ele não é apenas exemplo — é a fonte e o fim da nossa fé.
C. Ele não está na torcida. Ele está à frente. Ele já correu
a corrida. Ele enfrentou a cruz, o desprezo, a dor — e venceu. E agora está à
direita de Deus, intercedendo por nós (Romanos 8:34).
D. Quando olhamos para Ele, não vemos apenas um herói
distante, mas um Salvador compassivo. “Porque não temos um sumo sacerdote
que não possa compadecer-se das nossas fraquezas” (Hebreus 4:15).
E. Fixar o olhar em Jesus não é uma técnica espiritual. É um
ato de dependência. É dizer: “Senhor, sem Ti, eu paro. Contigo, eu posso
continuar.”
VI. Corra pela Alegria que te Está Proposta
A. O versículo diz que Jesus suportou a cruz "em
troca da alegria que lhe estava proposta". Que alegria? A alegria de
redimir você. A alegria de reunir um povo para Si. A alegria de ver Seu nome
glorificado.
B. A alegria não é o resultado da corrida — é o motivo
para correr. Assim como Cristo correu pela alegria de nos salvar, nós corremos
pela alegria de O conhecer, de O glorificar, de ver Seu reino avançar.
C. A alegria cristã não é felicidade superficial. É gozo
profundo, mesmo na dor. É o que sustentou Paulo na prisão, Pedro na cruz
invertida, Estevão enquanto era apedrejado (Atos 7:55-56).
D. Quando a corrida dói, lembre-se: há alegria do outro
lado. Há galardão. Há coroa (2 Timóteo 4:7-8). Há o "muito bem" do
Senhor (Mateus 25:23).
E. Você não está correndo para merecer o amor de Deus. Você
está correndo porque já é amado. E esse amor é a alegria que sustenta
cada passo.
Conclusão
Irmãos, a corrida está diante de nós. Não é opcional. É o
chamado de quem foi salvo por graça. Mas não corremos sozinhos. Temos uma nuvem
de testemunhas que nos inspira. Temos um pecado a abandonar. Temos um peso a
deixar. Temos uma carreira a completar. E, acima de tudo, temos um Salvador à
frente — Jesus, o Autor e Consumador da fé.
Ele não apenas nos convida a correr — Ele corre com a
gente. Ele não apenas terminou a Sua corrida — Ele garante a nossa. E quando os
pés falharem, quando o coração fraquejar, olhe para cima. Veja-O na cruz.
Veja-O na glória. Veja-O estendendo a mão.
Deixe o peso. Fixa o olhar. Corre com paciência. E corre
pela alegria — a alegria de pertencer a Ele, de servi-Lo, de vê-Lo um dia face
a face.
Aplicação
- Faça
um inventário espiritual: Que "embaraço" você precisa deixar?
Pode ser um hábito, uma relação, um sonho que está te afastando de Deus.
Entregue isso em oração.
- Identifique
seu pecado de proximidade: Qual pecado volta com frequência? Confesse-o
hoje. Busque um irmão ou irmã para te ajudar na luta.
- Fixe
o olhar diariamente: Comece seu dia olhando para Cristo — pela leitura da
Palavra, pela oração, pela adoração. Não comece pela agenda, mas pela
presença d’Ele.
- Corra
com paciência: Não desista por causa de um tropeço. A graça é suficiente.
Levante-se. Continue. Deus não desiste de você.
- Viva
pela alegria: Lembre-se do propósito. Você não vive para agradar homens,
mas para glorificar Aquele que morreu por você. Isso muda tudo.
Corra, irmão. Corra, irmã. A linha de chegada está à vista.
E Jesus está te esperando com os braços abertos.
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